UM EXPOENTE EM HUMILDADE E PROFISSIONALISMO


Conheci o Dr António Couto Soares numa viagem que fizemos ao Lichenstein no ano de 1982, a convite de uma empresa do ramo da nossa actividade, para conhecer as últimas inovações na área dos materiais e técnicas dentárias. 
Eu era o único técnico de prótese dentária num grupo de aproximadamente 30 médicos-dentistas. 
O que mais me marcou nessa estadia de uma semana, foi o facto de ele ter sido o único médico-dentista que me dirigiu a palavra, e com quem consegui ter alguma conversa, caso contrário teria estado mudo por uma semana. Já nessa época era notório o grande complexo de inferioridade ou superioridade por parte dos profissionais dentistas.
Mas foi passados oito anos que uma doente dele me falou muito bem do seu dentista... como sendo um excelente médico-dentista, de uma educação extrema, mas sem qualquer tipo apoio de um técnico à sua altura. Percebendo eu que os nossos perfis poderiam ser compatíveis, enviei-lhe o meu estafeta para lhe dizer que estava disponível e enviei-lhe o meu preçário... logo começamos a trabalhar em grupo. 
Imediatamente a nossa facturação começou a subir, mas foi só ao fim de um ano que decidi e tive tempo para o visitar. 
Para mim foi um espanto... nada acontece por acaso. Afinal já nos conhecíamos, ele sabia quem eu era mas eu não o associava ao passado. 
O certo é que durante vários anos a nossa facturação mensal não parava de subir, chegando mesmo a ultrapassar os mil por cento (1000%) em relação à data do início em que começamos a trabalhar. 
Dizia-me ele que alguns dos seus colegas lhe enviavam pacientes com casos que eles não conseguiam resolver e que lhe diziam: "se eu não resolver o Couto Soares resolve". Como é lógico ele não dizia aos colegas com quem trabalhava para não ter concorrência.
Um dia convidou-me para almoçar, não percebi o motivo mas claro que aceitei. A dada altura diz-me ele:
"-Fui convidado para dar aulas na CESPU e devo-lhe a si este convite". 
Como eu sou bastante emotivo, a minha resposta foi espontânea, e então disse-lhe: 
"-A mim não! O Sr. Dr não me deve nada! Pelo contrário, deve-o à sua humildade. Até está sempre a perguntar-me se preciso de dinheiro. Empresta-me o seu cartão de débito para eu possa ir ao multi-banco transferir os valores das minhas facturas para a minha conta, além disso está sempre a perguntar se eu preciso de dinheiro adiantado... O Sr Dr deve-o a si, à sua humildade, porque quando o seu diagnóstico não coincide com o meu, o Sr Dr chamava-me ao seu consultório para explicar aos seus pacientes o que deverá ser feito para que o caso possa ser bem sucedido. Foi isso que o levou mais longe, e a que os seus pacientes se sintam confiantes por terem seus problemas resolvidos. É essa atitude que lhe multiplica os pacientes. Aceite esse convite que a Faculdade lhe fez e conte comigo sempre comigo quando for necessário". 
O Professor Dr António Carlos Nogueira Couto Soares nasceu em 18-11-1954, Licenciou-se na ESMD do Porto em 1979, casou com Maria Guilhermina de quem teve 3 filhos, Mafalda, João e Mariana. Veio a falecer em 2006 com 52 anos de idade vítima do cancro no pâncreas. 
Fica a saudade e o vazio de um Grande Profissional e Amigo que bem formado, com caráter e categoria, cheio de Humildade sempre soube dignificar a Arte Dentária.